sexta-feira, 26 de julho de 2013

A Escravidão na África pré-Colonial

Jinga (1582-1663), a grande guerreira africana, segue com seu séquito de músicos, favoritas e oficiais, portando arco e a machadinha dos jagas. (ALENCASTRO, p. 233) 
A escravidão na África pré-Colonial, a comercialização de escravos, a influência muçulmana e as modificações quanto à escravidão no continente com o tráfico atlântico

A África estava, desde há muito tempo, ligada a escravidão tanto como fonte principal de escravos "quanto como uma das principais regiões onde a escravidão era comum", afirma Paul Lovejoy, que diz também que a escravidão no continente africano durou até o século XX.

A escravidão no continente africano antes da comercialização com os muçulmanos e a colonização europeia era marginalizada. A sociedade se estruturava de acordo com as relações de parentesco, através da gerontocracia (autoridade por membros mais velhos), mas a escravidão não alterava a formação social. A escravidão era apenas mais um dos meios dependência (haviam também o casamento e o concubinato), estava essencialmente ligada ao mundo do trabalho e também uma forma de exploração. Os escravos eram as pessoas que não tinham laço de parentesco, os estrangeiros, porém nem todo estrangeiro era escravo. Servia também, a escravidão, como uma forma de dominação nos lugares onde as relações de parentesco era dominante.

A existência de escravos na sociedade africana não fazia dela uma sociedade escravocrata, pois a sociedade não dependia diretamente deles, a escravidão no continente africano antes da comercialização com os muçulmanos e antes da chegada dos europeus, era, ressaltando mais uma vez, marginal. A comercialização de escravos com os muçulmanos se deu a partir do século VIII. No início, os escravos utilizados pelos muçulmanos eram os prisioneiros de guerra oriundos das expansões islâmicas. Eram utilizados no serviço militar, administrativo e doméstico. A escravidão muçulmana teve influência ideológica e tinha como base a religião, quem não se convertia ao islamismo tornava-se escravo como uma forma de aprendizagem. O escravo que se convertia não se emancipava de sua condição, mas a assimilação era considerada importante para uma possível emancipação.

Na escravidão islâmica as mulheres e crianças eram preferidas, as mulheres principalmente por causa da poligamia e serviços domésticos; eram tão importantes que custavam mais que os homens, nas relações comerciais com os muçulmanos. Os homens eram treinados para o serviço militar e doméstico, os mais promissores eram promovidos. O comércio de exportação na escravidão islâmica foi consideravelmente menor se comparada com a escravidão europeia. "As exportações chegavam a uns poucos milhares de escravos por ano na maioria das vezes, e como as áreas afetadas eram quase sempre muito extensas o impacto local era geralmente minimizado" (LOVEJOY, Paul). Em suma, a escravidão e influência islâmica se deu de uma forma ideológica, justificada pela religião e em números menores se comparada com a escravização pelos europeus.

O crescimento e a expansão do tráfico europeu de escravos mudou a história do continente africano e mudou também a escravidão no continente africano. A abertura do mercado atlântico foi um dos principais motivos que sistematizou a escravidão na África. Antes da abertura dos mercado atlântico, as costas atlânticas da África estavam isoladas do mundo exterior. A escravização pelos europeus no continente africano continuou a ser concebida em termos de parentesco. Os europeus queria trabalhadores para o campo e para as minas, preferindo assim escravos do sexo masculino. Com a intensa exploração dos europeus, a escravidão tornou-se uma sociedade agrícola baseada em grandes concentrações de escravos.

A exportação além do objetivo específico de mercado, de relações comerciais, foi também um elemento utilizado no controle de cativos. A exportação nesse caso funcionava como um processo ideológico que mantinha os escravos cumprindo com seus deveres e sem possíveis conflitos. Em suma, a principal influência da escravidão pelos europeus foi econômica, mudando radicalmente a escravidão no território africano deixando apenas de ser uma das relações de dependência, de estar à margem da sociedade e se transformar em uma instituição, em sistema, em sociedade escravocrata.


Referências Bibliográficas

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

LOVEJOY, Paul. A Escravidão na África: uma história de suas transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

3 comentários:

  1. Gostei, este texto é daqueles que as pessoas aprendem sem ficar com sono.

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  2. Que bom :D
    Mas o que você andou lendo que ficou com sono?

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