sexta-feira, 29 de junho de 2012

Fiódor Dostoiévski - Noites Brancas

Foto: Maiara Alves
Belye Noci
ISBN: 9788525417480
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução: Natália Nunes
Editora (Br): L&PM
Páginas: 94
Gênero: Literatura Estrangeira

Sobre: Numa iluminada noite de primavera, à beira do rio Fontanka, um jovem sonhador se depara com uma linda mulher, que chora. São Petersburgo está mergulhada em mais uma de suas noites brancas, fenômeno que as faz parecerem tão claras quanto os dias e que confere à cidade a atmosfesra onírica ideal para o encontro entre essas duas almas perdidas. Em apenas quatro noites, o tímido rapaz e a misteriosa Nástienhka passam a se conhecer como velhos amigos, mas algo vem atrapalhar o desenrolar romântico deste fugaz encontro...

Opinião: Li fragmentos de Anna Kariênina, as 132 primeiras páginas de Crime e Castigo, há pouco terminei o pequenininho Noites Brancas e fiquei ainda mais apaixonada pela literatura russa devido aos íntimos ataques verborrágicos característico das personagens. Noites Brancas fala sobre, entre outras coisas, sonhos, expectativas, ilusões, desilusões e me fez acreditar mais em mim mesma.

Em seis capítulos ("Primeira Noite", "Segunda Noite", "História de Nástienhka", "Terceira Noite", "Quarta Noite" e "Amanhã") Dostoiévski nos conta parte da história de um jovem sonhador, de uma jovem impulsiva para o comportamento atual e o encontro destes em quatro noites onde se conhecem, nos contam suas vidas, se apaixonam e desapaixonam: a história é tão breve quanto o encontro deles. As personagens são extremamente sensíveis a ponto de criarem expectativas que seriam consideradas, hoje, absurdas; essas expectativas resultam em emoções fortes com uma rapidez incrível. Como por exemplo a protagonista, Nástienhka que, em apenas dois encontros, constrói um sentimento fortemente fraternal pelo jovem protagonista e, talvez, à primeira vista, se apaixona pelo seu inquilino e guarda o sentimento por mais de um ano sem quase não o conhecer, quase não terem conversado sobre eles próprios, o que pensam, objetivos de vida, etc. Hoje, não sei nada sobre a Rússia da primeira metade do século XIX, mas não deve ser muito diferente dos outros países europeus do período, portanto o comportamento de Nastiénhka é compreensível se comparado ao de outras mulheres de seu grupo social do período - não que o autor tenha se limitado apenas à isto, a complexidade das personagens vão além do meu conhecimento, na verdade sempre digo que para entender de verdade um filme ou um livro é preciso ter uma base de filosofia e psicologia, no mínimo.

A sensibilidade maior está com o "jovem protagonista", sem nome (se foi citado não lembro), que às vezes parece apenas dramático - se o leitor não tiver paciência e ler rápido -, mas que na verdade é apenas sensível mesmo. Olha o mundo como criança, como se tivesse vendo tudo pela primeira vez, mas com intensidade de um adulto e às vezes nostálgico e melancólico como um idoso - ou, apenas, é excessivamente sensível mesmo. Me identifiquei com o "jovem protagonista" no que concerne ao seu jeito de olhar o mundo, por ele notar os detalhes que, hoje, passam desapercebidos pela maioria das pessoas; é conhecendo histórias como essa que, a cada dia, tenho certeza que estou no "tempo errado", ou muito presa à vidas passadas haha. Exemplo disso são as quotes das pág 33, 48 e 67 que dizem exatamente o mesmo que penso, na verdade acho que todos têm pelo menos alguma teoria sobre alguma coisa, eu tenho várias e por conta da minha insegurança só passo a acreditar em mim quando percebo que não sou a única que pensa tal coisa.

Gostei bastante do livro, mas ainda não tenho competência de analisá-lo como se deve, mas fica a dica para presentear aquele seu amigo lunático ou extremamente sensível.


Quotes

O meu coração teve um pressentimento. Por muito tímido que eu seja com as mulheres, naquele caso... é, as circunstâncias eram tão singulares! Em suma: tomei uma decisão, aproximei-me dela e... e teria sem dúvida começado por saudá-la... "Minha senhora!", se não me tivesse lembrado que essa expressão se encontra pelo menos mil vezes em todas essas novelas russas em que se descreve o ambiente da boa sociedade. (p.19)
 Um sonhador - para explicar-me mais concretamente - não é um homem, fique sabendo, mas uma criatura de sexo neutro. Geralmente o sonhador costuma viver fora do mundo, num refúgio, como se se escondesse da luz do dia, e, uma vez instalado no seu esconderijo, vive e cresce nele tal como um caracol na sua concha, ou pelo menos pode-se dizer que é parecido com esse animalzinho singular... (p.33)
Querida Nástienhka, agora que nós dois voltamos a nos encontrar depois de uma longa separação - porque eu já a conheço desde há muito tempo, querida Nástienhka, pois já há muito que ando à procura de alguém... o que é a prova de que eu a procurava e de que o destino tinha escrito que nos havíamos de encontrar precisamente neste loval -, agora abriram-se mil torneiras na minha cabeça e tenho que vazar o meu coração numa torrente de palavras, se não quiser que elas me afoguem. (p. 36)
E recordo que os meus pensamentos de então eram tão tristes como os de agora, e se bem que o passado não seja melhor, parece-nos sempre que foi, como se tivéssemos sentido por sobre a alma essa vaga melancolia que agora nos persegue; que não sentíamos esses remorsos de consciência que nos atormentam de um modo tão doloroso e persistente e não nos deixam um momento de repouso, nem de dia, nem de noite. (p. 48)
Porque quando somos infelizes ficamos mais aptos a compreender o sofrimento alheio; a nossa sensibilidade, assim, não se degrada, mas, pelo contrário, condensa-se e acumula-se... (p. 67)
Quando se ama, não dura muito o aborrecimento. (p. 91)

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